domingo, 1 de julho de 2012

ESPIRITUALIDADE NA INFÂNCIA

Ser  criança ou adolescente na sociedade atual  é muito mais difícil do que foi em épocas passadas, ainda que aparentemente as coisas estejam muito mais fáceis. Os pais são mais compreensivos, mais tolerantes, há maior liberdade de expressão, maior liberdade para escolha profissional. Essa dupla mensagem da sociedade, por um lado acreditando que hoje tudo é mais fácil e por outro sendo cada vez mais exigente no que diz respeito à competência profissional, à estética, ao sucesso, etc, é responsável por novos sintomas que se manifestam nas relações familiares. Vivemos a época do delivery ,do “tudo entregue na mão”. E já! É o mundo onde entrega-se de tudo: pizzas, vídeos, flores, livros, remédios, eletrodomésticos e  até drogas. Nossas crianças e jovens estão crescendo num mundo de entregas rápidas, de soluções imediatas, de falta de espaço para a espera e o amadurecimento. Como exigir dos jovens, que têm tudo à mão, cujos desejos podem ser “adquiridos” (não realizados) que saiam à luta, que encarem as frustrações, sacrifícios e renúncias  que toda conquista requer?
Cada vez mais a ciência se curva diante da grandeza e da importância da espiritualidade na dimensão do ser humano. Contudo, verificamos que  há um grande vazio espiritual. Mesmo quando as famílias dizem professar uma religião, o tempo e o lugar que esta (religião) ocupa no seu  dia-a-dia agitado é pouco  ou até insignificante.
Para que a criança construa uma vida interior saudável baseada numa espiritualidade rica, precisa encontrar no adulto o suporte necessário.Toda a criança ao crescer, ao desenvolver-se, vai construindo uma identidade à medida que descobre o seu universo através da convivência. Ao construir sua identidade, a criança tanto quanto o jovem, é  capaz  de compreender  sua própria origem, suas raízes e desenvolver  sua fé e esperança.

             Os pais e a igreja têm a responsabilidade perante o crescimento espiritual das nossas crianças. O vazio em que muitas delas  são educadas torna-se mais tarde insustentável para muitos adolescentes e adultos que, não encontrando significado    para     as   contradições   da vida cotidiana,  não  conseguindo  dar  um sentido ao sofrimento ou à solidão, procuram   frequentemente na  droga, na violência   ou mesmo no   suicídio uma razão ou uma saída  para algo que não  conseguem enfrentar e  interpretar.

            As potencialidades que a criança   manifesta   desde    o   nascimento,    que constituem a   sua dimensão espiritual, necessitam de estímulo e   apoio   para se   desenvolverem   bem e aprofundarem. A   capacidade humana para amar e o desejo de ser amada, a capacidade de pensar, de refletir interrogando-se  constantemente, a    capacidade  de  discernir e decidir, o tão necessário espírito crítico, a capacidade de comunicar entendendo os outros e fazendo-se entender é   o  que realmente nos torna humanos, sociáveis ou seja, nos faz viver em comunidade/comunhão.
            
O   bom desenvolvimento da espiritualidade permitirá  à criança tornar-se pouco a pouco autônoma, saber escolher e ir construindo a sua própria consciência  discernindo o bem do mal,  construir os seus valores e conhecer os seus limites. Para isso necessita de tempos e espaços seus. À medida que cresce espiritualmente, a criança ganha segurança, pois sente que está num mundo com sentido e com uma meta: a plenitude da vida espiritual em comunhão com Deus. À luz da presença do Pai, o Universo torna-se um lugar amigo, não ameaçador. Não podemos esquecer que catequizar é  ser formador de cristãos verdadeiros  e capazes de pôr em prática a Palavra de Deus num mundo tão agitado e que nos apresenta tantos conflitos.

              Antes de qualquer coisa, é importante que a criança veja os seus pais e em nosso caso, os catequistas rezando. Se vê o pai, a mãe ou o catequista a rezar sem pressa, a ficar em silêncio, a fechar os olhos, a pôr-se de joelhos, a passar as contas do Terço, a pôr o Evangelho no centro da mesa depois de tê-lo lido com atenção, a criança, que capta criticamente a importância destes momentos, apercebe-se da presença de Deus no ambiente e  descobre a oração como algo bom, aprende uma linguagem religiosa, palavras e sinais que ficam gravados na sua experiência, aprende atitudes e posturas. Tudo o que a criança e o jovem captam, desperta neles, a sensibilidade religiosa que vai muito além da “obrigação de rezar por sermos cristãos”
            Nada pode substituir esta experiência. Mas, além disso, é necessário rezar com os jovens e crianças. Eles aprendem a rezar rezando. Deve-se fazê-los participar na oração: que aprendam a fazer gestos, a repetir algumas fórmulas simples, algum canto, a estar em silêncio falando com Deus. A criança reza como vê e ouve rezar. Chegará um momento em que ela mesma poderá abençoar a mesa, iniciar uma oração ou ler o Evangelho com a maior naturalidade. A oração fica gravada em sua experiência como algo bom, que pertence à vida como a reunião, a conversa, o riso, a discussão, a diversão, a alimentação....                                  
 
Formação de Catequistas/Junho/2012

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